30 de abril de 2016

Das Escolhas Mais ou Menos Atribuladas

   Saudações a todos meus leitores. Espero que estejam todos bem desde a última vez em que nos encontrámos (mesmo que eu, dessa vez, não soubesse se estavam, ou não, bem, tal como agora não sei…). É uma coisa vagamente importante de se manifestar, o desejo de que tudo esteja bem com as pessoas com quem contactamos (e com todas as outras também, mas, a essas, torna-se impossível manifestar esse desejo…), ainda que seja mais ou menos uma futilidade que nos desvia do assunto. Que, diga-se de passagem, hoje também não é nada de jeito. Como ultimamente tem sido costume… Perdoem-me a falta de inspiração e de temas, e, como já me fartei de dizer, estejam à vontade para me transmitir quaisquer sugestões ou críticas que possam ter no intuito de melhorar estas minhas entradas.

   Ora, hoje, por razões e perspectivas que nada interessam para aqui, senti-me levado a fazer algo um pouco diferente, num tom um pouco mais pessoal, mais íntimo, e não no estilo pseudo-filosófico, pseudo-argumentativo, que habitualmente adopto (e que, no fundo, é apenas chato…). Tenho, naturalmente, algumas reservas em derramar o conteúdo do meu interior para aqui, indiscriminadamente, pelo que também não será algo tão íntimo quanto isso, e também não sei até que ponto estarão interessados no que tenho para dizer (algo me leva a prensar que talvez um pouco mais do que nas habituais paredes de texto mais ou menos enormes, por vezes excessivamente confusas, outras vezes pouco relevantes, e espero que não esteja errado…). Em suma, não esperem daqui uma grande exposição filosófica da treta, mas também não esperem uma página de um diário. Será, se assim o quisermos ver, um desabafo, contido, é certo, mas um desabafo ainda assim. Sei, ou melhor, suspeito que alguns de vós se poderão relacionar com ele, e, em parte, é por isso (e, portanto, por vós) que o faço.

   Todos nós estamos, no nosso dia-a-dia, habituados a fazer escolhas. “Vou pela esquerda ou vou pela direita”, “visto a camisola verde ou a castanha”, “como um pastel de nata ou um bolo de arroz”, “marimbo-me para o teste e vou fazer outra coisa qualquer que mais me agrade ou vou empinar aquela porcaria toda”, e muitas outras mais, que enfrentamos com frequência no nosso quotidiano, muitas vezes sem sequer repararmos nisso. Se fosse outro que não eu, diria que é um facto inevitável da vida, mas há uma parte de mim que rejeita toda e qualquer inevitabilidade (e o que aqui direi transparece isso mesmo…), pelo que direi, apenas, que se trata de um facto muito recorrente e, de uma maneira geral, muito chato. É que, independentemente da questão de a decisão ter sido a mais acertada (porque isso, além de ser muito relativo, é muito difícil de se determinar a não ser algum tempo depois – e mesmo assim a causalidade natural e o inerente efeito borboleta poder-nos-iam pregar partidas…), optar por uma coisa tenda a impedir que se dê seguimento às outras, e isso é ainda mais chato. É claro que isto nem sempre é preocupante (se se levar a camisola verde hoje, pode-se levar a castanha amanhã, sem qualquer problema), mas há situações em que pode determinar toda uma vida, como é o caso do ensino.

   Da forma como hoje em dia estão organizadas as cosias, deparamo-nos frequentemente com essa obrigação inescapável de escolher uma via de futuro, um curso, uma área de especialização, o que tem como consequência precisamente o facto de impedir, ou, pelo menos, dificultar, que se sigam as restantes. É claro que, da forma como a sociedade está hoje organizada (e, num certo sentido, já deste das primeiras comunidades de hominídeos), a distribuição de tarefas é indispensável e, nesse sentido, o generalismo de pouco ou nada serve, e, aliás, a própria natureza do conhecimento humano dificulta bastante que se saiba tudo sobre todas as áreas, mas, se é inegável que todos os indivíduos têm uma tendência natural para certas matérias/tarefas, que os torna mais bem-sucedidos aí do que nas restantes, é igualmente inegável que essa tendência nem sempre é para uma área restrita e bem-determinada. Não é, de todo, impensável que alguém tenha, por exemplo, uma afinidade natural para com tudo quanto seja Química Orgânica e, ao mesmo tempo, também tenha igual queda para História (e não falo no sentido em que ambas podem estar relacionadas, falo mesmo delas enquanto áreas distintas). Assim sendo, faz pouco sentido que os indivíduos sejam, a dado ponto, forçados a abdicar de uma das suas facetas pura e simplesmente por causa de limitações/deficiências organizacionais de um qualquer aspecto da sociedade (que, neste caso em particular, é, mais uma vez, o ensino).

   Portanto, forçar a escolha é mau. Percebe-se que há recursos limitados, que um aluno não pode estar em dois sítios ao mesmo tempo (vamos, para propósitos de simplificação, ignorar as complexas questões do funcionamento quântico do Universo, está bem?), mas não podemos, prevendo essa possibilidade de haver uma impossibilidade técnica, impor constrangimentos a priori, que impedem que, havendo possibilidade de seguir as duas, o aluno tenha, na mesma, de optar por uma só via (e vemos isto um pouco por todo o lado: na escolha de línguas estrangeiras, já desde o 3.º ciclo, nas áreas e nos cursos do secundário, e em toda a pletora de divisõezinhas do superior…).

   Tenho estado a ser repetitivo, admito isso (ao mesmo tempo que também admito ser demasiado preguiçoso para voltar atrás e corrigir e reformular tudo… espero que tenham a capacidade de me perdoar por isso…), mas, com tudo o que disse, queria, apenas, frisar que, independentemente das condicionantes que levam à necessidade de se escolher, ter-se de o fazer é mau, é indesejável, porque, em última análise, nos obriga a abdicarmos mais um pouco de nós (e, se me permitem o lirismo, abdicarmos de nós é morrermos mais um pouco em vida). Mesmo que haja quem consiga ter uma boa ideia do que quer/pode/melhor consegue fazer, e, por isso, tenha a escolha facilitada, também há quem tenha o grande problema de não fazer a mínima ideia daquilo em que é competente, ou em que teria mais possibilidades de ter sucesso, e isso só dificulta mais ainda a escolha, porque voltar atrás, se não impossível, torna-se custoso (o mais provável é perder-se todo um ano…).

   E, se isto fosse uma entrada normal, seria este o momento indicado para promover os Mini-Ciclos de Leccionamento enquanto forma ideal de garantir a máxima liberdade e as mínimas perdas resultantes de qualquer escolha, mas, não sendo esta uma entrada normal, não o farei (ainda que, indirectamente, o tenha feito… irónico…). Aproveitarei, em vez disso, para vos pedir desculpa por esta entrada de porcaria, que nem é íntima, nem argumentativa, nem lógica, nem coerente, nem clara, nem perceptível, nem nada… Raios partam a minha inspiração transviada!

   Enfim, já escrevi de mais para apagar tudo… Assim sendo, espero que estas minhas faltas de inspiração não vos estejam a afastar, caros leitores, e a retirar de vós qualquer noção que pudessem ter da possibilidade de se mudar o actual sistema de ensino… Posso andar só a escrever porcaria, mas não desisti, e espero que vocês também não, de me esforçar para tornar o mundo melhor…

   Pronto, fiquem bem, olhem para os dois lados ao atravessar a estrada (e para baixo, não vá haver um buraco onde possam tropeçar…), desculpem-me esta entrada parva e até à próxima.

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