Comparação

O que é que ficaríamos a ganhar com os Mini-Ciclos de Leccionamento?

   Como seria vagamente repetitivo voltarmos a falar de todos os aspectos do sistema de ensino alternativo dos mini-ciclos de leccionamento depois de o termos já descrito (com o maior pormenor que nos é possível) na Inovação, e também para se evitar mais uma parede enorme de texto, optou-se por se efectuar esta comparação por intermédio de uma lista de prós e contras deste sistema de ensino. Esperamos que os leitores não se importem…

   Da nossa perspectiva, os principais prós seriam:

◙ Maior flexibilidade na escolha dos conhecimentos a adquirir (no sentido em que o progresso ao longo da árvore do conhecimento só está dependente das inter-relações dos vários mini-ciclos de leccionamento e da vontade do aluno)

◙ Maior consciencialização por parte dos alunos do quão interligado está o conhecimento humano (precisamente através da árvore do conhecimento)

◙ Estimulação do interesse dos alunos (simultaneamente por o progresso das matérias ser mais natural e intuitivo, havendo, também, uma vasta gama de matérias à escolha, e por o acto de aprender não implicar outras obrigações que podemos, sem grande celeuma, considerar desagradáveis, nomeadamente testes/exames, trabalhos de casa, apresentações forçadas e despropositadas, trabalhos de pesquisa sobre temas que pouco ou nada interessam aos alunos…)

◙ Possível aumento da cobertura do ensino (no sentido em que, através do uso mais recorrente e difundido de aulas à distância, se pode fazer a escola chegar a sítios onde, anteriormente, os alunos teriam de percorrer um longo caminho até ao edifício físico onde poderiam ter aulas)

◙ Redução das despesas das famílias com o material escolar (já que, conforme já se referiu na Inovação, o material necessário se resumiria ao tablet e à plataforma, além dos eventuais equipamentos necessários para a parte mais prática do conhecimento – como uma bata para a parte laboratorial ou eventuais ferramentas para a parte mecânica)

◙ Redução do stress e dos malefícios que este traz à saúde dos alunos (já que todo o progresso do aluno apenas depende de este conseguir adquirir, ou não, os conhecimentos leccionados, não havendo, como já se referiu, mas importa sempre reafirmar, momentos específicos de avaliação; adicionalmente, o facto de haver mini-ciclos de leccionamento e a liberdade por que se progride por estes ambos implicam que um possível falhanço na aquisição de conhecimentos terá poucas consequências para o aluno e para o seu futuro) e dos professores (por não haver a pressão para cumprir um programa muitas vezes demasiadamente longo para o período de tempo a que corresponderia – já que a duração de cada mini-ciclo estaria ajustada exactamente à matéria que seria leccionada –, nem para corrigir testes, exames ou instrumentos equivalentes a tempo de os conseguir entregar no prazo certo – porque esses instrumentos não existiriam)

◙ Revitalização do valor do ensino de uma tarefa/profissão específica (ao se englobar na árvore do conhecimento matérias teóricas e práticas, não se estabelecendo uma distinção – e, por extensão, uma diferença de valorização – entre os dois tipos de ensino, o que implica que se veja como tendo igual valor saber pensar e saber fazer)

◙ Redução das perdas de tempo desnecessárias que possam surgir ao longo do processo educativo, nomeadamente a repetição desnecessária e desproporcionada de matéria e a elaboração, entrega e correcção de avaliações diversas (sendo todos estes factos decorrentes da própria organização do sistema de ensino, pois os mini-ciclos de leccionamento só necessitariam de ser adquiridos uma vez – à parte eventual necessidade de reverificação posterior – e isso ocorreria, conforme a Inovação, pelos exercícios realizados ao longo das aulas)

◙ Aumento do tempo livre dos alunos (pois as tarefas extra-aulas decorrentes da escola seriam tendencialmente nulas, o que deixa o período sem aulas dos alunos quase completamente livre, para que possa usufruir de um desenvolvimento pessoal e social – e outras coisas com sonoridade parecida ou igual – mais completo)

◙ Redução da burocracia e das diversas obrigações que prejudicam o tempo teoricamente livre de professores (nada de turmas nem horários para elaborar, nada de testes para fazer ou corrigir em casa, nada de trabalhos para avaliar antes que se acabe o período…)

◙ Possível aumento da eficácia do sistema de ensino (através da informatização inerente à plataforma on-line, que torna mais fácil e administrativamente mais simples gerir os recursos disponíveis)

◙ Possibilidade de uma maior especificidade dos critérios para a selecção de indivíduos para uma dada tarefa, o que, na actual organização social, corresponde a um dado emprego (tudo isto exigindo mini-ciclos específicos, de modo a responder precisamente ao que a tarefa exige)

   No entanto, como todas as coisas, este sistema de ensino não terá só vantagens. Há dois grandes contras que se nos apresentam, embora decorram mais da forma como este sistema de ensino poderá vir a ser posto em prática do que de como ele realmente foi idealizado. São:

♦ Possibilidade de maior desconexão/segmentação dos conhecimentos (caso, por motivos diversos ou mera falibilidade humana, cada mini-ciclo seja dado no agora habitual registo de “despejar matéria para cumprir um requisito”, é provável que os alunos não fiquem muito cientes da relação dos conhecimentos em causa com o todo; o mais preocupante disto tudo será a hipótese de, de uma forma mais ou menos orwelliana, se estimular esta mesma segmentação dos conhecimentos de modo a gerar uma certa “ignorância funcional”, em que cada cidadão saberia o necessário para desempenhar a sua função e pouco mais, de modo a haver poucos riscos de se pôr a pensar pela sua própria cabeça…)

♦ Possibilidade de a cultura geral dos alunos ser mais reduzida do que é hoje (visto não haver a obrigação de frequentar mini-ciclos específicos, e, sendo o ser humano tendencialmente preguiçoso, os alunos tenderiam a estudar apenas o que lhes servisse para desempenhar o futuro que pretendiam; a questão seria só a de estimular a sua curiosidade e o seu interesse pelas mais variadas áreas – pois este sistema de ensino, repita-se mais uma vez, permitiria que aprendessem tanto quanto quisessem –, só que isso nem sempre é assim tão fácil quanto parece…)

   Uma questão adicional, que teremos de deixar de parte por ser, por agora, insolúvel, é a dos aspectos financeiros da aplicação deste sistema de ensino, não pela perspectiva dos utilizadores, mas pela do Estado. Se, por um lado, menos burocracia e uma possível gestão mais eficiente (via plataforma) podem ajudar a reduzir os custos de toda a questão dos mini-ciclos de leccionamento, por outro lado, os eventuais meios adicionais, em termos de pessoal e de equipamento, podem gerar uma maior despesa. Nesse sentido, este sistema de ensino poderia ter um contra adicional neste aspecto financeiro, mas, como isto só se poderá descobrir ou quando se implementar ou quando se estiver a efectuar estudos no sentido de implementar este sistema de ensino alternativo, não estamos, neste momento, em condições de o aferir.

   Assim sendo, teremos chegado ao fim desta Comparação, que talvez seja mais uma avaliação (vagamente tendenciosa) dos Mini-Ciclos de Leccionamento do que uma comparação propriamente dita, mas pronto. Aqui, como em tudo o resto, estamos receptivos a todas as críticas ou questões adicionais que os leitores nos possam querer colocar, pois será assim que este sistema de ensino poderá melhorar, atrever-nos-íamos a dizer ainda mais. Resta-nos, apenas, a secção final, a que tivemos a audácia de chamar Revolução.



Mini-Ciclos de Leccionamento – Um Paradigma Alternativo de Ensino
| Introdução | Contestação | Inovação | Comparação | Revolução |

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