24 de maio de 2016

Apelo Novo Apesar de Repetido

   Jovens de todo o país, sei que não me ouvem, sei que não me têm ouvido, mas dirijo-me a vós na mesma, outra vez.

   Está a aproximar-se, não é? Está a aproximar-se mais uma época de exames, mais um ano, mais uma tortura. E vocês, mesmo que resmungando, encaminham-se para essa tortura, como se fosse prazer e não suplício, sorrindo alegremente e encolhendo os ombros face ao inevitável.

   Mas será esse inevitável mesmo inevitável? Não, raios, mil vezes não! Não há leis universais que ditem a obrigatoriedade de um exame, só há a tradição, o hábito, o costume, o paradigma, e nada disso é inevitável!

   Jovens, sei que estão todos ansiosos pelo futuro que querem, ou que pensam que querem, ter, sei que estão todos ansiosos por se livrarem de mais um sofrimento, o mais rápida e indolormente possível, mas eu, que olho e olhei talvez um pouco mais em frente, digo-vos, aviso-vos, que não será este o último sofrimento. Atrás dele vêm outros, e outros, e outros, e o futuro que (vos) pintam de cor-de-rosa tem mais espinhos que pétalas…

  Então, jovens, querem mesmo esse futuro? Querem mesmo chegar a um dia em que definham numa cama de hospital, e olham para trás, para a vossa vida, e vêem que, do início ao fim, o mundo manteve-se tal e qual, a mesma porcaria de sempre?

   Ou querem deixar a vossa marca sobre este planeta, sobre este Universo, e fazer alguma coisa com significado? Fazer algo que melhore as coisas para vocês e para todos, sem “mas”, sem “senão”, sem “e se”?

   Está nas vossas mãos: suportarem cada um individualmente e todos em geral um tormento injustificável, ou mobilizarem-se e agirem no sentido de demonstrar às tradições, e aos lobbies, e aos poderes instituídos, que já não toleram mais torturas, que já não suportam mais sofrimentos. Está nas vossas mãos: deixar as coisas como estão, ou mudar o ensino em Portugal para uma coisa melhor.

   Então, jovens, escolham bem: porque, independentemente de tudo o resto, o melhor momento para a mudança é sempre o agora.

   Abaixo os exames nacionais!

   (P.S.: As minhas desculpas aos leitores que esperavam uma entrada com mais pés e cabeça, sobretudo depois desta interrupção… Se serve de desculpa, ou de atenuante, aproxima-se a famigerada, ignóbil e execrável época dos famigerados, ignóbeis e execráveis exames nacionais, e, nesse sentido, foi em mim reavivada a urgência de combater este marco tão simbólico do actual paradigma de ensino e das cruéis imposições que dele advêm; além disso, além de sem tempo – já se sabe o que acontece normalmente nestas últimas semanas de aulas –, também tenho andado sem temas, pelo que, tendo-me lembrado disto, aproveitei. Em todo o caso, espero que voltem algures para a semana, quando espero já ter preparado uma entrada mais apresentável… Então, até à próxima, se me derem o enorme privilégio de me continuarem a ler…)

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