22 de janeiro de 2016

Exortação da Juventude

   Em virtude de uma conversa que tive recentemente, houve quem fizesse uma pergunta muito pertinente (e, se essa pessoa estiver a ler isto, espero que aceite os meus agradecimentos, que na altura não lhe pude dar): mas, afinal, o que é que eu pretendo com tudo isto?

   Bom, a resposta é simples: melhorar as coisas, melhorar o ensino em Portugal, e, sendo ele a base de toda e qualquer sociedade, melhorá-la também, por extensão. Só que é algo easier said than done, como diriam os anglo-saxões. Nesse sentido, e visto que (para grande desprazer meu) o paradigma dos Mini-Ciclos de Leccionamento é, pelo menos por agora, menos que exequível (tendo em conta que ainda não foi possível, pela impossibilidade momentânea de ter acesso a todas as áreas do conhecimento humano e às relações entre elas, estabelecer-se a árvore dos módulos, central para a implementação deste paradigma), há que dirigir os esforços para uma luta também necessária, e bem difícil também, que é a contra os exames nacionais. Não, não vou argumentar tudo outra vez. Podem ficar descansados.

   Sei que, até agora, pouco se tem conseguido no sentido de angariar mais apoios e apoiantes nesta luta; divulgar o blog por si só, como até agora (e por falta de melhor via de acção) se tem feito, em nada contribui para divulgar a ideia, o conceito, a mensagem, a contestação. E, num certo sentido, escrever o que quer que seja aqui, pela relativa falta de tráfego e, intrinsecamente, de leitores novos, ainda eventualmente alheios à contestação, também não serve de nada, mas, pelo menos, ficarei com a noção (ilusão) de que estarei a fazer qualquer coisa de minimamente significativo. Então, e independentemente de quantos dos visados realmente lerão isto que escreverei de seguida, tenho de deixar aqui uma mensagem (não, não é essa…) a todos os jovens. Ignorem, claro, o facto de me dirigir a eles (a vocês) como se não fosse um deles (de vós), mas a segunda pessoa fica aqui melhor do que a primeira. Ignorem também a eventual demagogia, mas a minha intenção, garanto-vos, é esclarecer e não iludir (ao contrário da maioria dos exercícios demagógicos…). Ora bem, aqui vai…

Jovens, que esperais com a vossa vida? Sucesso? Emprego? Família? Uma vida perfeita, uma existência feliz, uma vivência quotidiana e agradável?

Pensai, pensai bem, pensai profundamente. Que vos aguarda o futuro? Que sortes, que oportunidades, que maravilhas vos guarda o futuro? Pensai, pensai bem…

Que esperais, que pretendeis com a vossa vida? Assegurar uma existência segura para vós e para os vossos descendentes? Mas, se calhar, essa existência segura pode deixar de o ser sem grande pré-aviso… e, de qualquer das formas, já pensastes que, ao agirdes assim, estais a perpetuar um ciclo por que já passaram os vossos pais, e os pais dos vossos pais, e, talvez, os pais dos pais dos vossos pais, e por aí fora, mantendo-vos, a vós e aos vossos presumíveis descendentes, numa situação praticamente idêntica àquela em que vos vistes pela primeira vez que observastes o Mundo, que é a da constante precaridade ditada pela existência e também pela convivência na sociedade actual (com eventuais variações de intensidade consoante a classe social)?

Pensai, pensai bem, pensai nisto… Que pretendeis com a vossa vida? Prazer e satisfação? Então, como os podeis ter ao vos subjugardes a imposições diversas (de ordem sócio-política, hierárquica, histórica, seja o que for…)? Por mais que isso possa parecer uma via para um bom emprego, talvez correspondendo, em grande medida, aos vossos interesses e aptidões, e que vos permitiria, dentro do género, fazer o que mais vos agradasse, nunca vos ocorreu que há sempre aspectos adversos a vós, a retirar-vos a possibilidade de obter esse prazer e essa satisfação que procurais (mais que não seja porque há sempre obrigações e deveres diversos, que, por definição, têm a particularidade de se sobrepor ao que seria a vossa vontade e ao que vos traria prazer e satisfação)?

Então, pensai, pensai bem, ou melhor, senti! Ignorai ethos, pathos e logos, ignorai todas as razões e critérios e noções que vos foram dadas, ignorai os vossos preconceitos e os vossos pós-conceitos, ignorai os vossos objectivos e propósitos, ignorai tudo isso, e senti, e deixai que seja o vosso interior, o vosso âmago, o vosso íntimo, o vosso subconsciente a responder-vos: estais contentes com o que tendes e com o rumo que levais?

Se a vossa resposta for um rotundo e inabalável “sim”, ignorai tudo o que acabastes de ler e saí imediatamente desta página. Mas, se há uma parte, mesmo que mínima, de vós que acha que a resposta não é tão incontestavelmente afirmativa, lede mais um pouco e ouvi mais um pedaço do que tenho para vos dizer.

É certo que o que vos tenho a propor não vos trará mais prazer ou mais segurança do que se levásseis uma vida normal, mas é igualmente certo que vos dará uma oportunidade de fazer a diferença, de mudar as coisas para melhor. A vida é curta, e os míseros segundos cósmicos que estão reservados à vossa existência não podem, ou não devem, ser desperdiçados em afazeres irrelevantes, em atitudes insignificantes cujo único contributo para a melhoria é tornar as coisas ainda mais solidamente como já eram antes (o que nem sempre corresponde a torná-las melhores…). Estais mesmo dispostos a efectuar tal desperdício, ou ansiais, como eu anseio, por fazer algo mais, por fazer algo mais significativo, por fazer algo melhor?

Se for esta a opção que fizerdes, olhai em volta, olhai em volta e vede o que está mal. Que injustiças se podem eliminar? Que erros se podem corrigir? Que tradições desajustadas, dogmaticamente mantidas pela tendência intrinsecamente conservadora da sociedade, se poderão suplantar? Tantos, sim, tantos! Tantos que dão ânsias de resolver logo todos os problemas!

Talvez não seja possível chegardes (chegarmos) todos a um consenso acerca do que está mal e de como estaria melhor. Talvez sim. Não me atrevo a tentar determiná-lo. Mas, seja como for, pergunto-vos: vedes que há coisas mal, e querei deixá-las assim?

Não! Cem vezes não! Mil vezes não! Vós, que o vedes, que o vistes, ou sabeis ou devíeis saber que os males que vistes só aumentam se os deixardes andar, se não os eliminardes. Oh! Mas é parca a força humana face à imutabilidade granítica das imposições hierárquicas e esclarecidas. Mas vós, que sois, que fostes, que agora vos tornastes minimamente esclarecidos, devíeis também saber que essa força só é limitada pelos limites que vós mesmos lhe impondes, e que a imutabilidade das instituições apenas provém da ausência de esforços para as mudar!

Assim, juntai-vos e mostrai-lhes, a todos eles, a todos esses indefinidos e sombrios eles que conspiram para manter as coisas como estão, que já estais fartos de pactuar com injustiças, que já estais fartos de suportar indesejabilidades! Juntai-vos, uni-vos e mostrai-lhes a vossa força, não para vos beneficiardes, não em prol de uma qualquer ideologia sócio-política, mas em prol daquilo que está certo, em prol daquilo que é devido, em prol daquilo que é mais desejável! Mostrai-lhes que a mudança, mais do que necessária, vem já atrasada! Mostrai-lhes, jovens, mostrai-lhes tudo isso e muito mais, mostrai-lhes, em suma, que sois mais, que sois muito mais, que os insignificantes números a que vos reduzem!

E, por mais insignificante (e, potencialmente, ridículo) que seja, gostava de vos propor, jovens, um alvo que não sendo, talvez, consensual, é, na mesma, simbólico de todas as imposições, de todos os controlos, de todos os domínios, de todas as manipulações: os exames nacionais. “A educação é a ferramenta mais poderosa que podemos usar para mudar o mundo”, como disse Nelson Mandela, e, nesse sentido, há que mudar a educação para que possamos mudar o mundo. É, pois, por aqui que devemos começar.

E, assim, junto a minha voz à vossa (e espero que vós junteis a vossa à minha) num grito, num apelo, num protesto, numa reivindicação: abaixo os exames nacionais!

   Bom, os meus leitores mais habituais que me desculpem o frenesi demagógico (preocupantemente próximo de certos discursos políticos… vade retro, politiquice aguda que me está a querer infectar!), mas deram-me ânsias e furores de escrita que não pude (ou não quis) controlar. Enfim. Se me quiserem dizer alguma coisa, aí fica o espaço de comentários; critiquem (se assim o entenderem) à vontade, porque eu próprio sou o primeiro a admitir que caí completamente no ridículo com esta minha entrada. Mas pronto. Até à próxima…

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