12 de dezembro de 2015

Aferindo Aferições Diversas

   Antes de mais nada, tenho de apresentar as minhas desculpas por mais uma ausência, facto que, infelizmente, já se tornou um hábito. Eu gostaria, sinceramente gostaria, de escrever todos os dias, mas nem sempre consigo achar a inspiração necessária, ou um tema apropriado, ou argumentos minimamente válidos… e também me deparo, com a frequência a que o actual sistema de ensino já habituou os pobres daqueles que o frequentam, com todas essas ignobilidades de testes, e trabalhos, e trabalhos de casa… Enfim. Não interessa.

   Trago-vos hoje, com relativa frescura, uma temática que foi, se não estou equivocado, vagamente abordada na Assembleia da República recentemente, embora não exactamente pelas mesmas razões que me levam a abordá-la… Bom, em virtude da abolição dos exames do 4.º ano (Viva! Mas… e os outros? Não serão também para abolir? Não? Sou eu o único maluco que pensa assim?), e no âmbito de umas declarações do actual Primeiro-Ministro acerca disso, que estabelecia algum tipo de distinção entre a avaliação dos alunos e a aferição da escola, a bancada parlamentar do CDS-PP questionou o Ministro da Educação acerca da possível reimplementação das antigas (e parcialmente famigeradas) Provas de Aferição. E eu, como não poderia deixar de ser, vou aproveitar para criticar um pouco mais o actual sistema de ensino. Já sabem como sou, não é?

   Basicamente, a questão é: exames versus provas de aferição versus nada. Creio que se consegue mais ou menos adivinhar qual será a minha resposta, mas, mesmo correndo o risco de me tornar vagamente repetitivo, não me posso impedir de realizar uma análise crítica (e, mais do que isso, céptica) daquilo que são as provas de aferição. Dos exames, não vale a pena falar: remeter-vos-ei, em vez disso, para uma entrada anterior, onde me centro especificamente nessa questão. Aqui está.

   Bom, de uma maneira geral, as provas de aferição sofrem do mesmo tipo de problemas que os exames, testes e momentos formais de avaliação afins: não reflectirem adequadamente os níveis de conhecimento do aluno (já que constituem um momento pontual de avaliação, cujos resultados podem ser adulterados por uma vasta gama de factores, conforme não me canso de repetir), ajudarem a consolidar a noção de que o ensino deve actuar como elemento diferenciador de alunos (através das notas) e/ou corresponder a um mero cumprimento de requisitos mais ou menos burocráticos (leia-se programas), em detrimento da transmissão de conhecimentos que é, ou deveria ser, o verdadeiro propósito de qualquer sistema de ensino (conforme defendo na minha Fundamentação Metafísica do Propósito da Escola), e, de uma maneira geral, constituírem uma fonte de interpretações injustas e inadequadas à realidade, ao subjugar um conjunto de situações pedagógicas diversas a um mesmo critério geral, normalizado e normalizante, que, exactamente por ser assim, não tem em conta toda uma gama de possíveis situações adversas que escapam ao controlo dos alunos, penalizando-os injustamente (e, em parte, às escolas).

   Em suma, as provas de aferição constituem, ao fim e ao cabo, mais um momento de avaliação; mesmo que não seja esse o objectivo oficial das provas de aferição, não me parece improvável que, face ao eventual contributo das provas para os rankings das escolas (e, intrinsecamente, para o seu financiamento), elas sejam apresentadas aos alunos como algo de grande importância, para o qual se devem preparar afincadamente, conferindo-lhes, por isso, o mesmo tipo de efeitos psicológicos adversos que os exames (mesmo que os efeitos das provas nas notas sejam menores; ainda assim, afigura-se-me que haverá sempre aqueles casos em que um aluno entre a positiva e a negativa acaba por ser ajudado por ter tido mais ou menos boa nota nas provas de aferição, mas isso é outra história…).

   Nesse sentido, estaremos a trocar uma tortura prejudicial (exames) por uma tortura mais ou menos inócua (provas de aferição), mas uma tortura ainda assim. De qualquer das formas, entre os dois, tenho de concordar que as provas de aferição são a opção menos má. A questão é que a existência de provas de aferição deixa ainda em aberto a possibilidade da reimplementação dos exames nacionais, e isso é tudo menos desejável. Ah, claro, e também não posso deixar de frisar que as provas de aferição, não reflectindo o verdadeiro conhecimento dos alunos (como já disse e como continuarei a dizer), podem não ser um instrumento assim tão preciso para aferir a qualidade do ensino. Isto, claro, partindo do princípio que essa aferição da qualidade do ensino levaria, de facto, a algum tipo de mudanças, coisa que, pelo andar da carruagem, não me parece muito provável…

   Enfim. Mesmo que as provas de aferição sejam preferíveis aos exames, não são um bem, são apenas um mal menor. E eu não sou propriamente fã de males menores… acho, em vez disso, que não deve haver males nenhuns. Então, se me permitem que meta aqui a colherada habitual, parece-me que a solução mesmo, mesmo melhor seria não haver provas nem exames, e implementarmos, em vez disso, um novo paradigma de ensino: Mini-Ciclos de Leccionamento. Pronto. Já disse. Já se sabia que eu ia chegar aqui. Sou repetitivo, é certo, mas não posso deixar de tentar ao máximo promover esta perspectiva que, mais do que nova, creio ser melhor e, logo, mais desejável. Por isso, não me calarei e continuarei, sempre que puder, a apregoá-la o máximo possível.

   Para terminar, desejo um bom fim-de-semana a todos os meus leitores… ou um bom dia, ou seja o que for, já que poderão estar a ler isto não exactamente durante um fim-de-semana. Até à próxima, e não se esqueçam de que o espaço de comentários está aí em baixo, à espera do que possam ter para dizer…

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