28 de novembro de 2015

Da Limitação de Textos (e da Criatividade)

   Tive recentemente a epifania por que aguardava ansiosamente. Finalmente, e no decurso de uma conversa, apercebi-me de que havia um aspecto relativamente relevante do actual sistema de ensino (e, em particular, nas ignóbeis avaliações que este contém) que ainda não tinha comentado. Sim, alguns diriam que é insignificante, outros diriam que está bom e faz sentido, mas eu, como de costume, sinto-me levado a dizer que está mal. Perdoem-me esta mania de ser do contra, mas asseguro-vos de que não surge de nenhuma vontade abjecta de criticar, mas sim de uma intenção de melhorar. Mas enfim. Vamos a isto…

   Creio ser do conhecimento geral que, na maioria das disciplinas que se prendem com a expressão escrita (sobretudo as linguagens, e creio que também, em certos casos, a Filosofia), há, nos textos de maior desenvolvimento, a imposição de um limite de palavras. Sim, é neste momento que me apercebo de que o que tenho para dizer é bastante picuinhas, se me permitem o termo, mas, agora que encontrei este tema, não o vou deixar escapar… Não estou exactamente com a disponibilidade criativa para rejeitar temas, como referi na minha entrada anterior. Mas pronto. Dizia eu que há a imposição de um limite de palavras, tanto para o mínimo como para o máximo. Nesse sentido (e falando mais ou menos matematicamente), estamos perante um intervalo de palavras. Só que talvez não seja assim tão desejável que esse intervalo tenha dois extremos reais, se me permitem mais uma metáfora matemática…

   Convenhamos, faz vago sentido que se exija um mínimo de palavras. Pretende-se aferir se os alunos se conseguem expressar numa dada língua, e, para tal, deverão conseguir construir um texto com uma certa extensão. Poderíamos pôr em causa se a extensão pedida é adequada, mas, por agora… creio ser melhor abstermo-nos disso. Da mesma forma, também vamos deixar de parte se a construção de um texto acaba mesmo por ser indício do conhecimento dessa língua. Só para não criar (mais) polémica aqui…

   Mas, por outro lado, não me posso conter de contestar os limites máximos. Consigo ver uma razão mais ou menos lógica para existirem; afinal, não se pretende que os alunos escrevam, nesse teste ou exame ou seja o que for, uma obra-prima literária… e também não convém muito aos professores correctores que haja grandes textos para ler, porque, se assim fosse, demorariam (ainda) mais tempo a corrigir os testes. Mas será mesmo necessário relembrar o facto de todos esses momentos de avaliação estarem, de uma forma ou de outra, condicionados pelo factor tempo? Nesse sentido, acaba por haver uma certa limitação da extensão do texto; mesmo que o aluno levasse o teste (ou qualquer outra coisa que fosse) inteiro a fazer o texto (além de isso trazer, como seria de esperar, consequências negativas ao nível da nota), não me parece plausível que atingisse uma extensão assim tão incomportável (mais a mais porque não havia mais respostas a ler…).

   Fica, assim, mais ou menos explicado que a não imposição de um limite máximo não traz grandes problemas. Mas falta falar do aspecto mais essencial: e quais são as consequências que essa imposição traz? A mais flagrante, e a mais imperdoável, é a perda de tempo acrescida representada pelos cuidados que cumprir o limite exige, sobretudo para aqueles que, tal como eu (sim, admito, esta entrada é parcialmente um queixume), têm uma grande tendência para usar mais palavras e dizer mais coisas do que o necessário; tem-se de contar as palavras, de tentar resumir, de ler e reler e ver o que está a mais e pode ser retirado… enfim, um martírio. Alguns dos leitores poderão, muito provavelmente, compreender este sofrimento. Ou talvez não. Não interessa.

   Diriam alguns que é também importante a capacidade de síntese. Enfim, não tenho grande modo de o contestar. Mas será mesmo desejável que se considere que escrever trezentas e uma palavras é uma imperfeição (implicando, por isso, um desconto na cotação) face a escrever trezentas? É por escrever mais umas quantas palavras que se deixa de saber utilizar a língua? Percebo que se exija um mínimo de desvios ao tema (com eventuais penalizações no caso de os cometer), mas agora, impor um limite fechado, estrito, totalitário, das palavras? Não me parece boa ideia. Sobretudo porque um texto, opinativo, narrativo, seja o que for, só consegue adquirir naturalidade e boa legibilidade quando é espontâneo, natural, livre, instintivo (pelo menos, é esta a minha experiência pessoal, e também a minha perspectiva artística), e essa expressão espontânea, natural, livre, instintiva, muito dificilmente será subjugada a um limite de palavras. Em suma, limitar as palavras limita a criatividade e, em última análise, a qualidade do texto produzido. Sendo assim, acaba por defraudar a aferição das capacidades linguísticas do aluno, contrariando, assim, aquilo que seria o propósito do teste. E esta é a segunda razão por que não se deveriam impor limites máximos de palavras.

   Então, depois de toda esta argumentação, o que podemos concluir? Parece-me que seja o seguinte: se vamos impor algum tipo de condição à extensão dos textos que se exigem aos alunos, devemos apenas estabelecer um valor mínimo de palavras a escrever. Desde que, claro, se trate de um valor razoável para o tema escolhido (não fará sentido exigir-se um mínimo de 5000 palavras para falar acerca do fim-de-semana que se teve…) e para o nível de conhecimento dos autores dos textos (exigir um relato de 1000 palavras a um aluno que está no início da aprendizagem de uma língua é descabido…).

   Poderia, ainda, levantar questões acerca das temáticas escolhidas, mas ficarei por aqui, sob pena de ultrapassar os limites deste texto e ser penalizado por isso, se me permitem a piada forçada e francamente idiótica. Enfim. Um bom fim-de-semana a todos, e não se esqueçam de que têm à vossa disposição o espaço de comentários, para o que quer que seja que queiram dizer.

21 de novembro de 2015

Semi-Confirmação da Manutenção da Minha Existência

   É com grande insatisfação que faço esta entrada, apenas para informar quaisquer leitores do facto de eu não estar morto nem ter abdicado da luta contra o actual sistema de ensino. Apenas… tenho andado ultimamente sem inspiração. Ou melhor, sem sorte. Comecei já três a cinco entradas diferentes (sem contar com esta), todas elas abandonadas por serem repetidas (estupidez a minha!), irrelevantes ou inconclusivas. Enfim, não vale a pena maçar-vos com tantas explicações, mas achei por bem justificar esta minha ausência (ao mesmo tempo que, de alguma forma, a mitigo). Tinha a esperança de que o tempo de aulas me trouxesse maior facilidade na identificação de potenciais temas, mas não. Enfim. Se tiverem alguma sugestão, algum tema que gostariam de ver abordado, não hesitem em falar nisso. Eu andarei por cá, mas, até ver, um pouco mais silencioso do que o costume. Raios partam esta minha inspiração transviada!

   Tenham todos um bom fim-de-semana e uma boa semana, semanas, meses, ou seja que tempo for que eu demore. Espero que não seja muito, mas enfim… Em suma, até breve…