22 de julho de 2015

Confusões de Exames

   Peço desculpa por mais uma ausência, mas os assuntos escolares (nomeadamente a segunda fase da tortura dos exames nacionais) voltaram a ocupar-me o tempo e não pude adiantar mais nada. Tenho ainda mais fragmentos textuais para publicar, mas prefiro, em vez disso, comentar (com um certo atraso) um assunto que é relativamente actual, e que o título denuncia já antes de o mencionar. Sim, é isso: os exames nacionais. Outra vez.

   Como os possíveis leitores provavelmente já saberão, sou contra os exames nacionais. Já o disse várias vezes, e digo-o agora de novo. Assim sendo, não posso perder a oportunidade de desferir mais uma alfinetada, por assim dizer, nesse… grandioso… empreendimento, nessa ideia mais do que genial, nesse processo central e essencial da educação que são os exames (podem ficar descansados, que a ironia fica por conta da casa…).

   Bom, decerto se saberá já da confusão que houve relativamente aos critérios de correcção do exame de Português. Bem como do pormenor de as médias de Matemática terem subido significativamente e da investigação subsequente que o actual ministro da educação, Nuno Crato, quis encetar. Mas o que me espantou, e me continua a espantar, é o facto de não ter sido encetada nenhuma investigação relativa àqueles exames cujas médias sofreram uma descida igualmente significativa (sendo Biologia e Geologia o caso, a meu ver, mais flagrante). É curioso, não é? Se sobe, há, de certeza, marosca, mas, se desce, é normal. A culpa é dos alunos, que “não adquiriram conceitos essenciais da disciplina”, ou fosse lá como fosse que se justificou essa descida. Enfim…

   O que ninguém se lembra de referir é que a suposta “flexibilidade” nos critérios de correcção deste ano foi para descontar ainda mais, e isso (suponho eu) talvez tenha algo a ver com essa descida. Mas, que digo eu? Só podem ter sido aqueles eternos culpados, os… os alunos. Sim, esses. Quem mais? De certeza não foi, de modo algum, o IAVE, cujo director também não declarou, há algum tempo, que havia a possibilidade de, dentro do género, se definir antecipadamente os resultados dos exames, com base nos critérios de correcção. Ainda bem que nada disto aconteceu, pois, caso contrário, poder-se-ia especular um pouco sobre a verdadeira objectividade dos exames… Que, diga-se de passagem, não é assim tanta.

   Para aqueles que ainda acham que a correcção dos exames é um processo que envolve o máximo rigor e que, portanto, é das coisas mais fiáveis que existem, gostaria de saber o que pensam do facto de ter havido casos de troca de versões na correcção. Pode parecer exagero e especulação, mas é a mais pura das verdades. Houve casos desses. Sim, eu sei que errare humanum est e tudo o mais, e que é por essas e por outras que existem revisões de prova, mas não posso, de forma alguma, deixar de notar que a mera existência de casos destes (ou a mera possibilidade da sua ocorrência) ajudam, num certo sentido, a comprovar aquela que é a minha opinião, que é a de que os exames não reflectem apropriadamente o conhecimento dos alunos.

   Só necessito de fazer uma ressalva, para todos aqueles que possam ficar melindrados com o que digo nesta entrada: não é, de forma alguma, a minha intenção denegrir especificamente a imagem de todas as pessoas que, directa ou indirectamente, colaboram na elaboração dos exames nacionais e na sua correcção; o que pretendo é salientar, uma vez mais, quão ridícula e indesejável é esta prática e quão desajustada está daquele que deveria ser o propósito do ensino, que é o de transmitir conhecimento. Assim, quaisquer críticas aqui patentes não são dirigidas às partes, mas sim ao todo, e ao conceito que lhe está subjacente, que, a meu ver, não está correcto.

   Tenho dito.

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