23 de maio de 2015

Mais Uma Vez Sobre os Exames (Com Acordo Ortográfico À Mistura)

   Depois daquela última entrada francamente lacónica (e de mais uma pausa por falta de tempo), espero voltar hoje à contestação propriamente dita, já que já perdi a oportunidade de comentar muitas situações e notícias que surgiram entretanto. O assunto que escolhi é, uma vez mais, os exames.

   Está já declarada a minha posição relativamente aos exames: sou contra, absolutamente contra, irrevogavelmente contra. Não sei quantos leitores partilham esta minha opinião (se é que ainda tenho leitores, depois de tanta pausa…), mas não vale a pena repetir os meus argumentos. Em vez disso, apresentarei mais uma incongruência que se tornou evidente a partir do (deveras execrável) momento em que foi anunciado o fim do período de transição do (des)Acordo Ortográfico.

   Este ano, ou melhor, a partir deste ano, nos exames, só é considerada correta a nova grafia, sendo considerado um erro ortográfico escrever de acordo com, a antiga (e, diria eu, correcta) grafia. Bom, tudo isto é muito giro, a grafia sancionada oficialmente é a nova, a outra é já “arcaica”, mas… será que alguém se questionou se esses alunos aprenderam, de facto, a nova ortografia? É que, a meu ver (e da minha experiência pessoal), deve haver muitas escolas por esse país fora onde os alunos ainda aprenderam a escrever de acordo com a antiga ortografia (não propriamente os do 4.º Ano, que, coitados, já tiveram de fazer exame, mas talvez mais os do 6.º – mais outros coitados que já fizeram exame – para cima) e nunca lhes foi ensinada a nova. Então, está-se a exigir aos alunos que realizem algo que não aprenderam (quer dizer, alguns – não sei se muitos – terão eventualmente aprendido a nova ortografia, mas certamente não foram todos os alunos que a aprenderam), o que, a meu ver, estará errado. Seria como colocar equações do 2.º grau para serem resolvidas no exame de Matemática do 4.º Ano. Um absurdo.

   Alguns (os apoiantes do Acordo) poderão argumentar que o Acordo já deveria ter sido leccionado nas escolas e que, se não foi, o problema é de cada escola e não dos exames em si. Mas, vejamos, quem sai prejudicado com isso? Bem, as escolas um pouco, sim, descem no ranking, mas (aparte eventuais questões financeiras) isso não as prejudica muito; então, quem mais? Ah, já sei, aqueles, os… os do costume, os tais que já nem me lembro do nome… os… os alunos. Sim, é isso, os alunos. Há tanto tempo que não ouvia falar deles…

   Mesmo que esses “maravilhosos” exames sirvam para criar uma suposta igualdade de circunstâncias (eliminando as diferenças resultantes de os alunos terem diferentes professores e provirem de diferentes escolas), se os alunos que a eles são submetidos não partem de uma mesma igualdade de conhecimentos leccionados (já nem falo dos conhecimentos que possuem ou não), os exames tornam-se uma injustiça. Que, de resto, são. Assim, creio eu, dever-se-ia, até só estarem a fazer exame os alunos que tenham aprendido já a nova ortografia desde que entraram na escola, aceitar também a antiga. Mas, claro, o IAVE e o governo e todas essas instituições não estarão para isso e, mesmo que estivessem, provavelmente argumentariam que já não há tempo para fazer as alterações devidas. Então, o que se pode fazer? Apresenta-se-me uma resposta possível: todos os alunos e pais e professores fazerem pressão sobre o governo para aceitar ambas as grafias. É simples, certo? E há sempre o último recurso de boicotar os exames por causa disso, coisa que não seria assim tão má ideia…

Sem comentários:

Enviar um comentário

Este espaço está à disposição de todos os leitores, seja para elogiar, seja para criticar, seja para, pura e simplesmente, comentar. O autor reserva para si o direito de responder conforme tenha disponibilidade.