31 de maio de 2015

Ainda Sobre os Testes

   Para compensar o facto de já não escrever há muito tempo, decidi hoje fazer mais uma entrada. Retomo um assunto que já anteriormente abordei, mas que, ainda assim, ainda tem muito que se lhe diga: o dos testes.

   Quem já leu minimamente as outras palavras que aqui escrevi provavelmente saberá que sou contra os testes. É verdade. Declaro-me culpado, mesmo que não me possam culpar por isso. Afinal, se formos a pensar bem, o que são, em essência, os testes? Um acto puramente burocrático, como creio já ter referido. Como se pode dizer que servem para aferir quanto conhecimento possuem os alunos, se uma porção significativa dos alunos cabula e/ou copia (porção à qual, desde já o digo, não pertenço de maneira nenhuma), se uma (outra) porção significativa dos alunos decora (porção à qual me esforço ao máximo para não pertencer) e se uma porção significativa das perguntas não está bem construída (a nível da gramática e, por vezes, da ortografia)? A meu ver, portanto, os testes são pouco mais do que uma farsa.

   Alguns diriam que os testes (e, sobretudo, as notas dos testes) servem de escalonamento do conhecimento ou algo assim, de forma a separar aqueles que não “sabem” dos que “sabem” e, portanto, a atribuir mérito àqueles que o merecem. Só que isso é, creio eu, uma grande peta (desculpem-me a expressão popular). Por um lado, é possível (como já tenho vindo a referir) saber-se e não se ter boa nota; por outro lado, é igualmente possível não se saber e ter-se boa nota. Além disso, quem corrige o teste nem sempre é completamente objectivo (mais que não seja por ser humano), beneficiando uns e prejudicando outros (nem sempre sem intenção de o fazer…). Outra objecção ainda é que faz pouco sentido considerar-se aceitável só se saber metade dos conhecimentos para se ter positiva. Mas pronto. Tudo isto já foi dito, e estou a ocupar espaço com coisas repetidas.

   O que tenho verdadeiramente de novo para dizer é o facto de, na grande maioria dos casos (ou, pelo menos, na grande maioria dos casos com os quais tenho contacto), a maioria das questões de teste serem retiradas de outros testes/exames/recursos. É certo que a disponibilidade temporal dos professores é pouca e tem vindo mais ou menos a diminuir, mas… enfim… se um aluno apresentasse um trabalho composto unicamente por textos provenientes de copy-paste da Internet, provavelmente atribuiriam classificação negativa a esse trabalho; então, se os alunos (cujo tempo livre também não é assim tanto, e que não são, de maneira nenhuma, remunerados por todo o trabalho que têm de ter) não podem fazer copy-paste, então por que razão o poderiam os professores? A meu ver, isto só vem reforçar o facto de os testes não serem feitos por mais razão nenhuma senão a de cumprir um requisito burocrático, no sentido em que demonstra que o que é importante é que se faça o teste, independentemente de os alunos já terem feito aquele mesmo exercício (num teste da Internet, num livro de questões de exame, num livro de exercícios…), independentemente da verdadeira utilidade prática do teste. Assim, a única conclusão admissível, para mim, é a seguinte: os testes são indesejáveis.

   O espaço de comentários fica à disposição de todos os que quiserem concordar comigo ou discordar de mim. Resta-me apenas desejar uma boa semana a todos, seja ela de escola ou de trabalho.

23 de maio de 2015

Mais Uma Vez Sobre os Exames (Com Acordo Ortográfico À Mistura)

   Depois daquela última entrada francamente lacónica (e de mais uma pausa por falta de tempo), espero voltar hoje à contestação propriamente dita, já que já perdi a oportunidade de comentar muitas situações e notícias que surgiram entretanto. O assunto que escolhi é, uma vez mais, os exames.

   Está já declarada a minha posição relativamente aos exames: sou contra, absolutamente contra, irrevogavelmente contra. Não sei quantos leitores partilham esta minha opinião (se é que ainda tenho leitores, depois de tanta pausa…), mas não vale a pena repetir os meus argumentos. Em vez disso, apresentarei mais uma incongruência que se tornou evidente a partir do (deveras execrável) momento em que foi anunciado o fim do período de transição do (des)Acordo Ortográfico.

   Este ano, ou melhor, a partir deste ano, nos exames, só é considerada correta a nova grafia, sendo considerado um erro ortográfico escrever de acordo com, a antiga (e, diria eu, correcta) grafia. Bom, tudo isto é muito giro, a grafia sancionada oficialmente é a nova, a outra é já “arcaica”, mas… será que alguém se questionou se esses alunos aprenderam, de facto, a nova ortografia? É que, a meu ver (e da minha experiência pessoal), deve haver muitas escolas por esse país fora onde os alunos ainda aprenderam a escrever de acordo com a antiga ortografia (não propriamente os do 4.º Ano, que, coitados, já tiveram de fazer exame, mas talvez mais os do 6.º – mais outros coitados que já fizeram exame – para cima) e nunca lhes foi ensinada a nova. Então, está-se a exigir aos alunos que realizem algo que não aprenderam (quer dizer, alguns – não sei se muitos – terão eventualmente aprendido a nova ortografia, mas certamente não foram todos os alunos que a aprenderam), o que, a meu ver, estará errado. Seria como colocar equações do 2.º grau para serem resolvidas no exame de Matemática do 4.º Ano. Um absurdo.

   Alguns (os apoiantes do Acordo) poderão argumentar que o Acordo já deveria ter sido leccionado nas escolas e que, se não foi, o problema é de cada escola e não dos exames em si. Mas, vejamos, quem sai prejudicado com isso? Bem, as escolas um pouco, sim, descem no ranking, mas (aparte eventuais questões financeiras) isso não as prejudica muito; então, quem mais? Ah, já sei, aqueles, os… os do costume, os tais que já nem me lembro do nome… os… os alunos. Sim, é isso, os alunos. Há tanto tempo que não ouvia falar deles…

   Mesmo que esses “maravilhosos” exames sirvam para criar uma suposta igualdade de circunstâncias (eliminando as diferenças resultantes de os alunos terem diferentes professores e provirem de diferentes escolas), se os alunos que a eles são submetidos não partem de uma mesma igualdade de conhecimentos leccionados (já nem falo dos conhecimentos que possuem ou não), os exames tornam-se uma injustiça. Que, de resto, são. Assim, creio eu, dever-se-ia, até só estarem a fazer exame os alunos que tenham aprendido já a nova ortografia desde que entraram na escola, aceitar também a antiga. Mas, claro, o IAVE e o governo e todas essas instituições não estarão para isso e, mesmo que estivessem, provavelmente argumentariam que já não há tempo para fazer as alterações devidas. Então, o que se pode fazer? Apresenta-se-me uma resposta possível: todos os alunos e pais e professores fazerem pressão sobre o governo para aceitar ambas as grafias. É simples, certo? E há sempre o último recurso de boicotar os exames por causa disso, coisa que não seria assim tão má ideia…