25 de outubro de 2014

Ainda (e Sempre) contra os Exames Nacionais…

   O meu espírito (vagamente) filosófico não pára de me massacrar por ontem ter feito uma entrada tão… dogmática, apresentando aquilo que penso sem ter em conta as justificações possíveis para o que digo. Por isso, e por talvez poder cativar melhor os descrentes para a minha causa, passarei a expor a argumentação que me leva a ser contra os Exames Nacionais.

   Não querendo remeter imediatamente para a leitura da minha teoria principal (que, por ser um texto algo longo, pode desagradar a uma certa parte dos leitores), tenho de referir que algumas das palavras que aqui apresentarei não andam longe do que refiro nesse texto. Tenho igualmente de referir, uma vez mais, que os meus conhecimentos de pedagogia são nulos, pelo que se agradece aos leitores que se abstenham de fazer críticas relativas a afirmações contrárias aos ensinamentos da pedagogia (por menos exacta que seja a pedagogia). Feitos estes avisos, posso começar a argumentação.

   Antes de mais, para quê existirem Exames Nacionais? Deixando de parte possíveis (e possivelmente válidas) justificações que se prendem com interesses económicos (no sentido em que talvez haja uns quantos cargos gerados, directa ou indirectamente, pelos exames, cargos esses que podem ser atribuídos a pessoas escolhidas por critérios outros que a competência/adequação, se os leitores percebem o que quero dizer), afigura-se-me que a principal razão seria para providenciar uma medida de uniformização ao ensino, e, de certa forma, uma forma de avaliar os conhecimentos dos alunos.

   É exactamente este propósito que me leva a discordar dos exames. Passo a elaborar. O ensino não é, nem pode ser, igual para todos os alunos, porque é impossível verificar-se o mesmo conjunto de circunstâncias em todas as escolas; assim sendo, são uma fonte de injustiças, havendo alunos beneficiados pelo “acaso” que leva a que as circunstâncias sejam favoráveis, e outros que são prejudicados, por as circunstâncias não lhes serem tão favoráveis. Pegando num exemplo bastante pertinente, no presente ano lectivo, houve, conforme já referi em entradas anteriores e conforme a comunicação social destacou, erros na colocação de professores, que levaram a que, em muitas escolas, tenha havido turmas cujas aulas, a certas disciplinas, começaram substancialmente mais tarde; ora, estatísticas à parte, é razoável admitir que terá havido situações em que essas disciplinas coincidem, parcial ou totalmente, com as disciplinas que serão objecto de exame, colocando esses alunos numa desvantagem relativamente aos outros. Como se pode esperar, então, que o facto de serem sujeitos ao exame os beneficiará? Sei que há quem considere que é exactamente por as circunstâncias não serem todas iguais que os exames são essenciais, mas não posso concordar, por mais injustiças que haja no mundo (e que se considere ser normal, e, por isso, aceitável, haver no mundo), que se cometa mais esta, ainda para mais quando, em tantos casos, pode afectar grandemente a vida futura dos alunos.

   Por outro lado, quanto à parte de avaliar os conhecimentos dos alunos… bem, é aqui que repito o que já digo na minha teoria principal. Um aluno pode (admito que não em todas as disciplinas examinadas) decorar toda a matéria necessária, e através disso ser bem sucedido no exame; assim, o conhecimento que é supostamente testado não é verdadeiro conhecimento, é só memorização. Também se podia falar da possibilidade de cábulas e copianços (mas isso é um pouco mais difícil no caso específico dos exames) ou da possibilidade de, no dia do exame, se conjugarem circunstâncias adversas para os alunos, que perturbem a sua capacidade de efectuar o exame (falo mais a nível psicológico do que propriamente a nível físico, visto haver contingências previstas para estas últimas circunstâncias). Tudo isto se resume, portanto, a uma única conclusão lógica: os exames podem não reflectir o verdadeiro conhecimento de um aluno.

   Que mais argumentos posso dar? Não querendo incorrer no que é, de certa forma, um lugar-comum nos (poucos) textos contestatários aos exames que andam por aí, terei, ainda assim, de fazer referência à desproporcionalidade de se fazer um período de duas horas (deixando de parte as tolerâncias e variações de ano de escolaridade para ano de escolaridade) valer aproximadamente o triplo de um teste, com uma duração mais ou menos idêntica (e, por vezes, quantidade quase idêntica de matéria – porque há alguns testes que acabam por ser globais, com matéria de anos passados e tudo), e isto só para a classificação final do ano (não entrarei nas especificidades do ingresso no Ensino Superior, que podem fazer essa influência aumentar).

   Uma incongruência adicional, que, tanto quanto saiba, sou dos poucos a notar (levando-me a suspeitar de que a falha talvez seja minha…), é o facto de os exames, em essência, praticamente anularem o(s) ano(s) correspondente(s) à matéria examinada. O que quero eu dizer com isto? Basicamente, e em teoria, se um aluno conseguir resolver um exame, isso significa que, oficialmente, aprendeu/sabe a matéria desse exame (mesmo que apenas a tenha decorado); assim sendo, se o que prova o conhecimento é o exame, para quê haver aulas? Basta o aluno preparar-se para o(s) exame(s) e efectuá-lo(s), e, a título oficial, terá aprendido a matéria examinada. Assim sendo, hipoteticamente, mais valeria haver um sistema em que a única interacção do aluno com o ensino “oficial” fosse através dos exames, tendo todo o resto do ano lectivo para ele próprio se preparar. Funcionaria bem… se tivermos em conta a minha ironia. Mas… enfim… pior não ficaria… talvez…

   Essa minha hipótese à parte, talvez possa resumir o parágrafo anterior mais correctamente ao dizer que os exames acabam por ser um contra-senso, ao porem em causa a própria qualidade do ensino (ou seja, se se tem de fazer exames para descobrir se os alunos sabem a matéria, é porque se pensa que a avaliação do ano lectivo não reflecte apropriadamente o conhecimento dos alunos, e, logo, todas as aulas do ano lectivo são mais ou menos inúteis).

   Em todo o caso, e como sempre, a minha argumentação já ficou mais extensa do que o que eu pretendia. Os leitores que quiserem criticar ou comentar estão, como sempre, convidados a fazê-lo.

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